O Museu de Sant’Ana é aberto hoje em Tiradentes após seis anos desde os primeiros passos para a sua implantação.
Tiradentes. Fechado há cerca de 30 anos, o prédio onde funcionava a antiga cadeia de Tiradentes, no século XVIII, reabre as portas à cidade. Lá, estão mantidas as evidências do uso dele no passado, como as portas de madeira e ferro que encerravam celas, e até um espaço no subsolo reservado à condenação solitária.
Apesar dos vestígios da história, o edifício retorna à ativa com uma função mais nobre. A partir de hoje ele abriga o Museu de Sant’Ana. O evento de inauguração também vai celebrar a doação das 291 esculturas, expostas no local e centradas na iconografia de Sant’Ana, ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Estão confirmadas para o encontro as presenças da ministra da Cultura, Marta Suplicy, da presidente do Iphan, Jurema Machado, e do presidente do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), Angelo Oswaldo.
À frente dessa ação está Angela Gutierrez, responsável pela criação de outros dois museus, o do Oratório, em Ouro Preto, e o de Artes e Ofícios, em Belo Horizonte. A mais recente casa concebida por ela tem a particularidade de se concentrar apenas na imagem daquela que representa, para a religião católica, a mãe da Virgem Maria.
De acordo com a colecionadora e presidente do Instituto Cultural Flávio Gutierrez, a reunião das principais manifestações artísticas em torno da imagem da figura religiosa é realizada pela primeira vez. “Eu não conheço outro museu aqui ou em outras partes do mundo que faça esse trabalho. Talvez de agora em diante nós tenhamos alguma notícia”, pontua Angela Gutierrez durante a visita, anteontem, aos ambientes do local onde estão expostas diversas esculturas produzidas, principalmente, entre os séculos XVII e XIX.
Origem. É sabido que é a partir do século XV que começam a surgir diversas representações de Sant’Ana na arte ocidental. A personagem religiosa identificada como a mãe da Virgem Maria, desde então, surge cumprindo diferentes papeis em esculturas produzidas tanto na Europa, quanto no Brasil. Ela é vista assim, como mestra, guia, além de mãe. Um pouco dessas três versões está presente e é ressaltada nas três principais salas do museu.
“A Sant’Ana mestra perpassa os três ambientes e se revela como a coluna dorsal dessa coleção. Ela é reconhecida pela posição da santa sentada na cadeira com o livro aberto, ensinando a filha que está ao seu lado. Essa é a iconografia mais conhecida e universal de Sant’Ana. Mas a primeira das salas é reservada às santas mães, que são imagens fortes e muitos raras”, explica Angela Gutierrez.
A segunda sala do ambiente sublinha a diversidade de manifestações dessas figurações ao acolher imagens produzidas em sete Estados brasileiros. São eles, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás, Bahia, Pernambuco e Maranhão. “O visitante vai perceber que, às vezes, há três, quatro ou cinco peças produzidas pelo mesmo artista, em razão das semelhanças. Outro dado interessante é a possibilidade de se perceber como as Sant’Anas que apareceram no litoral são diferentes daquelas que surgiram no interior do país”, comenta a colecionadora.
“As esculturas produzidas na Bahia, por exemplo, são mais coloridas, alegres, e com o maior uso de elementos dourados. Já aquelas encontradas em Minas Gerais, por exemplo, são mais sóbrias, apresentando um uso mais discreto das cores”, acrescenta Gutierrez.
Já a terceira parte do ambiente centra atenção nas Sant’Anas guias. “Nessa a santa é retratada em pé, segurando a filha com uma mão e um livro fechado na outra. No Brasil é mais comumente encontrada a partir do Norte de Minas e na Bahia”, detalha ela.
Há ainda, entre as salas, um corredor em que estão organizadas duas seções. Uma delas espelha o sincretismo brasileiro ao frisar o olhar de matriz africana para a representação da santa. A outra, nomeada “paulistinhas”, reúne miniaturas dessa representação, de 5 cm a 25 cm de altura, confeccionadas em barro.
Fonte: otempo.com.br
19/09/2014